refogando pra sempre

Tenho nutrido comportamentos que ao longo prazo me provocam ansiedade. Não sei quando isso começou à ocorrer, mas ao invés de ter as reações físicas da ansiedade (crises, episódios de paralisação, respiração ofegante), parece que eu encontrei uma forma de incluir uma camada de medo constante ao meu modus operandi.  Ao invés de uma porrada forte, eu recebo pequenas doses diárias. É uma sensação de angústia perpétua que nos últimos anos eu tendo à sistematizar e racionalizar dentro da minha rotina. É triste admitir, mas eu mesma crio cenários que me permitem continuar assim. 




O mais recente (coloque aí uns 2 anos de repetição) segue o seguinte roteiro: tenho algo realmente importante pra fazer. Este algo me impede de encontrar satisfação em outras atividades porque me sinto culpada em não estar focada no que é realmente urgente. O meu "algo" atual é planejamento de aulas. Estou dando aulas de inglês e a cada semana pego mais turmas. A cada semana eu me vejo na situação de dormir pouco porque não consigo me planejar com antecedência e deixo tudo para última hora. Sei o que quero fazer, mas não sento e faço quando tenho o tempo disponível. 

As vezes, "procrastino" fazendo algo útil. Faço um mercado, organizo algo na casa, ou passo um produto no cabelo. Desvios que ainda acho perdoáveis, considerando que quando estou no meu pior estado mental não consigo me comprometer com nada disso. Nas últimas semanas, consegui deixar meu apartamento de uma forma que considero 1000x melhor do que nos últimos anos. Diminui em muito a minha lista de pendencias e, apesar de não ter conseguido me planejar da forma que devo, estou cada semana melhor. 

Bem, não NESTA semana.

Eu geralmente tenho um condicionamento implícito. "Só vou conseguir trabalhar em casa com o ambiente adequado". Louça limpa e guardada. Roupa de cama arrumada. Gaiola do rato limpa. Lixo pra fora. 

A lista começa pequena e objetiva. Mesmo assim, o básico me parece um grande martírio. "Jogar meu lixo fora todo dia? COMO as pessoas fazem isso todo os dias sem sofrer?"

Mas eventualmente eu me esforço e termino "o grosso". Logo depois, surgem os preciosismos "mas bem, de qualquer forma o box do banheiro continua sujo", ou "você deveria jogar fora aquelas coisas que estão pra estragar na geladeira antes que isso se torne um problema maior". E a lista de impeditivos segue crescendo, provando-se um verdadeiro trabalho de Sísifo. 

Sinto que sou muito boa de em encontrar problemas, mas nunca resolvo nada na hora. 




Todos sofrem com serviço doméstico, não sou especial. O problema é que utilizo isso como desculpa para evitar as responsabilidades que realmente me são urgentes. E as coisas que eu deveria estar fazendo me impendem, por sua vez, de fazer o que eu gostaria mesmo de estar fazendo (cuidando do meu jardim, testando receitas novas, estudando japonês, desenhando)

Então eu vou me carregando, semana atrás de semana, carregando a culpa de ter certo tempo livre, com certa facilidade financeira, mas com pouquíssima estrutura mental pra conseguir me fazer feliz. 

O meu tempo, esse recurso tão precioso, eu desperdício olhando a timeline do twitter ou apenas trocando mensagens com o pobre do meu namorado que nessa altura é a única pessoa com quem eu mantenho um diálogo constante e decente. Me sinto péssima por isso. Não sei o quanto ele foi capaz de assimilar até agora, mas eu deposito muita expectativa em cima dele. E sabendo que ele já é uma pessoa com uma carga grande de responsabilidades não sei o quanto isso é justo. 

Eu escolhi este título antes de escrever a publicação. Sabia sobre o que iria escrever, mas não imaginava o resultado. "Refogando pra sempre" é uma analogia tchonga, mas que faz muito sentido. Me aproximo dos 28 anos e olhando pra trás vejo que os últimos anos da minha vida foram uma sequência de "preciso resolver isso antes de focar naquilo", "não vou conseguir dar atenção a este problema enquanto essa preocupação existir". Uma batalha de pensamentos intrusivos que parecem uma partida de tapão. Nunca no meu comando. Sempre acordando atrasada. Sempre em atraso. Lutando contra o relógio, mesmo quando os prazos são artificiais. Uma sensação horrível para a qual eu me adaptei. 
 

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